Luís Osório

 

AMOR

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Acreditei que seria para sempre.
Desesperava na sua ausência – cada palavra, beijo ou sorriso devolviam-me à vida, parecia que nada no meu corpo funcionava sem a presença daquele primeiro amor.
Passaram tantos anos. Esqueci-me de como sorria, do sabor da saliva ou da sua voz. É uma efeméride, apenas. A memória de que seria para sempre, a certeza de tantos de que não existe amor como o primeiro. Que ridículo quando tal se diz. Porque a primeira vez molda as outras, deforma-as ou oferece-lhes o absoluto de que éramos feitos na idade em que nos aconteceram mais coisas em menos tempo.
Mas infelizmente não é verdade. Todos os amores, mesmo os que acabam de nos bater à porta, são sempre como se fossem o primeiro. Porque se não o forem serão outra coisa, uma relação que sossega a solidão, uma tentativa de habitar o que antes era silêncio. Não é pouco, mas não é amor. Amor a sério tem de ser absoluto. E como o fomos perdendo nesta dura estrada, resgatamo-lo às primeiras memórias. À memória do primeiro amor.  
Deste que aqui vê num beijo sem tempo. Como se a felicidade fosse possível e este país sem relógios existisse na realidade e não apenas no desejo. Serei eu o da penumbra? Ou o da penumbra foi o que perdi de mim pelo caminho?

 

Luís Osório é jornalista português.