Bené Fonteles

 

DAS DORES

Vem das brenhas do semiárido de um
povoado que nem jeito de cidade pegou. Cipoal é lugar de pobre, seco e triste
de dó. Nele se come de pouco, trabalhasse muito e saúde só da fé de benzedeira
e raizeiro.

Das Dores andou de muito até chegar a
Bom Jesus da Lapa para pagar promessa de cura, Das Dores deseja uma recordação
fixada da peregrinação. A tristeza quase amarga do olhar peregrino não esconde
a solidão agreste, o corpo seco e apegado na alma, tudo emoldurado pela tenda
do fotografo lambe-lambe.

Quem é Das Dores que atravessa todo um
sertão dentro se si mesma para pagar promessa e alargar esta alma romeira?
Nenhum fotografo há de responder. Mas uma fotografia tão potente e expressiva
do lambe-lambe ou do fotografo artista, há de somente perguntar ao imaginoso de
cada criatura, o que há no avesso de uma rara imagem. Também no avesso do
avesso da vida crepuscular de Das Dores.

Tudo é cru como carne seca ao sol. Não
há poesia na vida nem nos benditos e orações que canta, recita e repete para
iluminar a fé vesga.

Das Dores sobrevive do penitente ato de
viver e guarda no coração uma alegria que não teve. Das Dores vive a solidão que
nenhuma companhia cura. Só alivia quando na romaria depara com outras mulheres
iguais a si. Todas elas cheias sem graça das dores de si mesmas.

Bené Fonteles é artísta plástico
brasileiro

 

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